André Mustafá: Na geração elétrica, o Brasil já é baixo carbono

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André Mustafá: Na geração elétrica, o Brasil já é baixo carbono

André Mustafá: Na geração elétrica, o Brasil já é baixo carbono

Postado em: 11/01/2023

André Mustafá: Na geração elétrica, o Brasil já é baixo carbono

Setor Elétrico Brasileiro já atingiu índices de carbono zero que poucos países possuem, já que apresenta mais de 80% de geração renovável em sua matriz elétrica

O desenvolvimento econômico de qualquer país depende de um setor elétrico robusto e confiável. Por isso, a preservação ambiental, alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), precisa considerar como pilares de um futuro de baixo carbono a segurança energética e a modicidade tarifária na geração elétrica. Essa tríade baliza a contribuição do setor elétrico na mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) para o cumprimento da legislação ambiental e atendimento aos compromissos firmados no Acordo de Paris.

Para a maioria dos países que teve a base do seu desenvolvimento construída a partir de fontes fósseis, viabilizar uma transição para economia de baixo carbono é um desafio de grande monta. Mas, diferente do restante do mundo, o Setor Elétrico Brasileiro (SEB) não têm essa dificuldade, pois já atingiu índices de carbono zero que poucos países possuem, já que apresenta mais de 80% de geração renovável em sua matriz elétrica, o que, em 2019, representou percentual quase quatro vezes superior ao da matriz mundial, de acordo com Balanço Energético Nacional, da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE).

Esse cenário faz com que o SEB tenha participação mínima no quadro de emissões nacionais de GEEs. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEG), em 2019, o Brasil emitiu 2,2 bilhões de toneladas de GEEs e o setor de geração de energia elétrica apenas 1,54% do total, sendo os demais 85% das emissões nacionais sendo advindos do desmatamento, do transporte e do agronegócio – áreas que fazem jus ao perfil de uma economia agroexportadora. O foco em soluções de baixo carbono nos setores mais intensivos na geração de GEEs que devem ser a prioridade para transição da nossa economia para um futuro de baixo carbono.

Em se tratando da matriz elétrica, o Brasil depende de algum nível de geração fóssil não por opção, mas sim por necessidade, já que são fontes movidas a combustíveis que estão disponíveis independente de suscetibilidades que possam colocar em risco a segurança do nosso abastecimento de energia, Segundo o Balanço Energético Nacional (2019) para produzir 1 MWh de energia elétrica no ano de 2016, o setor elétrico brasileiro emitiu menos 2,9 vezes GEE que a Europa, 3,7 vezes menos que os Estados Unidos e 5,8 vezes menos que a China. Com 1,54 % das emissões brasileiras o uso das termelétricas atende o pilar da segurança energética.

A importância das térmicas para a segurança energética ficou evidente, por exemplo, em 2021, que foi um ano marcado pela mais severa crise hídrica dos últimos 90 anos, o que exigiu das termelétricas acionamento intensivo para evitar um racionamento de energia elétrica.

Olhando o futuro, Plano Decenal 2031 prevê que o total de emissões será crescente, refletindo a perspectiva de crescimento econômico do País de 2,9% ao ano, sendo que emissões do setor elétrico alcançarão 59 Mt. CO2eq, mantendo a atual participação de cerca de 11% da emissão total de energia.

Diversos mercados de energia elétrica, que estabeleceram metas agressivas de descarbonização, adotaram uma política de substituição de fontes despacháveis e síncronas por fontes intermitentes não síncronas. Essas políticas tem gerado problemas de confiabilidade em vários sistemas ao redor do mundo.

É fundamental que políticas de descarbonização considerem a manutenção do nível adequado das fontes despacháveis síncronas na rede elétrica, na qual se obtém maior confiabilidade dos sistemas elétricos permitindo, inclusive, maior penetração das fontes de geração intermitentes não síncronas (ex. solar e eólica). Com isso, é possível alcançar uma relação ganha-ganha entre as fontes solar e eólica e as termelétricas, pois a confiabilidade do sistema é garantida e ao mesmo tempo com sustentabilidade ambiental.

Outro aspecto importante de ser considerado: embora tenha sido percebida uma recente melhora no nível das chuvas e recuperação do nível de armazenamento das hidrelétricas, na última década, foram percebidas anomalias no padrão das chuvas nas principais bacias hidrográficas. Essas anomalias supracitadas ainda não estão completamente compreendidas e não existe ainda certeza quanto a sua reversibilidade, pois dependem dos impactos das mudanças climáticas nos regimes de chuva e consequente preservação dos reservatórios.

Na questão da segurança energética, que é o resultado de uma matriz de fontes de geração domésticas e diversificada, o uso de todas as fontes (sol, vento, biomassa, petróleo, gás, carvão, nuclear, resíduos, etc), deve atender a neutralidade de carbono para 2050 e, no caso das fontes fósseis e biomassa, deve utilizar as tecnologias de Captura, Armazenamento e Uso do CO2 (CCUS, na sigla em inglês), bem como outras tecnologias como hidrogênio e amônia com carbono zero.

Quanto ao custo da energia elétrica, pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria – CNI, mostra que o consumidor brasileiro que adquiriu energia pelo mercado cativo pagou a segunda tarifa de energia mais cara dos países analisados na OCDE, o que certamente prejudica a competitividade da indústria e serviços, assim como a economia como um todo.

Dessa forma, qualquer política de descarbonização deve ter uma visão holística que considere o estágio de desenvolvimento nacional, seu perfil e características econômicas, ao invés de copiar modelos ou modismos externos sob o risco de herdamos não o sucesso, mas sim os problemas que outras nações enfrentam, e evitando que essa condição viabilize o desenvolvimento que o Brasil tanto almeja.

*Link da matéria: https://www.canalenergia.com.br/artigos/53234597/na-geracao-eletrica-o-brasil-ja-e-baixo-carbono